Com a máscara da mentira, os discursos políticos ficariam mais
responsáveis
"Mas que lugar miserável! Aqui, ao contrário de votos, vou
é receber muitas 'mordidas', e ainda terei de abraçar velhinhas e beijar
crianças ranhentas, que espero não mijem em mim", pensa o candidato, ao
começar uma caminhada política nas comunidades.
"Lá vem aquele cara de novo! Só aparece aqui em época de eleição,
prometendo coisas que nunca cumpre. Não pode ver uma velhinha ou uma criança
que já vem de beijinhos. Em passada a eleição, esquece da gente e desaparece!
Eu vou votar em outro!", pensa um morador do lugar.
"Bom dia, meu chefe!", falou o candidato. "Não
podia deixar de passar aqui para ver se o amigo precisa de alguma coisa. Fiquei
esperando a tua visita! E a vovó? Tá bem, hem! Dá um abraço apertado aqui pra
matar a saudade! E este nenê mais lindo! Vem no colo do tio! Minha gente, conto
com o voto de vocês para melhorarmos esta cidade".
"Pode contar com a gente aqui de casa, meu chefe",
respondeu o eleitor. "Aqui nós sempre votamos no senhor, e não vai ser
diferente desta vez! Vovó, fala pra ele quantos votos nós já conseguimos! Xiii,
o nenê fez xixi no patrão! Isto é sinal de sorte!".
Este encontro imaginário entre um candidato e um eleitor sugere
que o mundo seria diferente para melhor se, quando alguém mentisse, tivesse que
colocar na frente da cara uma daquelas máscaras presas numa varinha de madeira.
Ideia que li não me lembro onde!
O sujeito ia falar a verdade, ficava a cara limpa! Mentira à
vista, levantaria a máscara do Pinóquio para escondê-la. Quem fingisse
acreditar na mentira aplicada empunhava a máscara do Pateta. Com estas
máscaras, a mentira estaria atrelada à verdade e somente acreditaria em
mentiroso quem quisesse mesmo se enganar!
Houvesse esta “lei” de levantar máscaras na presença da mentira,
estas seriam instrumentos obrigatórios em muitas campanhas eleitorais, e talvez
até constrangesse alguns candidatos de promessas irrealizáveis.
Há um grande desencontro no discurso político de alguns e o que,
na realidade, irão fazer se eleitos. Para compensar, corre risco o candidato
que acredita piamente no voto certo que o eleitor lhe prometeu. Valesse esta
lei das máscaras, os discursos políticos ficariam mais responsáveis, ainda que
muitas candidaturas preferissem empunhar máscaras da mentira, mesmo que
corressem o risco de caírem todas na verdade da hora do voto. Verdade que está
no voto consciente e livre!
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